Arnica montana L.
Família botânica Asteraceae
Fotografia de Meneerke Bloem CC BY 2.0
Nomes populares: Arnica, arnica-verdadeira, arnica-das-montanhas, panacéia-das-quedas, tabaco-das-montanhas, quina-dos-pobres, etc.
Observação: Diversas espécies da família botânica Asteraceae são conhecidas pelo nome popular “arnica”, sendo amplamente utilizadas na medicina popular em todo o Brasil. A origem etimológica da palavra arnica deriva do grego “arnakis”, que significa “pelos de carneiro” e provavelmente refere-se às sépalas cobertas de pelos macios que cercam a flor.
As informações a seguir são referentes a espécie Arnica montana L.
Origem ou Habitat: Arnica montana é uma planta perene de alta altitude nativa das encostas das montanhas na Europa, norte da Ásia, Sibéria e América, também conhecida como tabaco de montanha (KRIPLANI; GUARVE; BAGHAEL, 2017).
Características botânicas: Planta aromática perene de 0 a 60 cm, talo erguido, tomentoso, com poucos ramos e em cuja base localiza-se uma roseta de folhas lanceoladas, estendidas sobre o solo. As folhas superiores são menores, em forma de lança, do lado oposto e ligado diretamente ao caule. As flores são de cor amarela (às vezes alaranjadas), localizadas em localizadas em um capítulo terminal, aparecendo em meados do verão e início do outono (Europeu). O fruto é um aquênio de cor parda.
Partes usadas: Flores (capítulos florais)
A espécie Arnica montana, nativa da Europa, de difícil cultivo no Brasil, é a principal espécie comercializada por suas propriedades anti-inflamatórias. Seu extrato é incorporado a cremes e pomadas de uso externo.
No sul do Brasil, muitas espécies utilizadas pelas comunidades são conhecidas como arnica, o que pode causar confusões em relação à correta identificação botânica. O uso interno das arnicas deve ser evitado ou acompanhado de especialista devido às possíveis reações adversas
Uso popular:
Uso externo: contusões, traumatismos, distensão, escaras, feridas infectadas, úlceras crônicas, artrites, edema local associado a fraturas, hematomas, hemorróidas, dores musculares, reumáticas e articulares, picadas de inseto inflamadas, flebite superficial, insuficiência venosa crônica, sintomas de veias varicosas, frieiras superficiais, xampus para dermatite seborréica (caspa) e para estimular a circulação sanguínea no couro cabeludo (MILLS; BONE, 2000), infecções cutâneas como acne e furunculoses, inflamações da orofaringe, queimaduras de sol, queimaduras superficiais e pouco extensas, eritema de nádegas (BRUNETON, 2001).
A aplicação externa local na forma de creme, pomada ou gel ou na forma de cataplasma úmido composto por uma solução que contém uma colher de sopa de A. montana tintura para um quarto de litro de água morna leve é valorizado para tratamento de osteoartrite, alopecia e insuficiência venosa crônica (KRIPLANI; GUARVE; BAGHAEL, 2017).
Advertência: o uso interno da planta na forma de infusão ou tintura não é adequado, a planta é utilizada pela via oral apenas em formulações homeopáticas (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002).
O formulário de fitoterápicos da farmacopeia brasileira (2011), alerta que a planta não deve ser utilizada por via oral e em lesões abertas, em casos isolados pode provocar reações alérgicas com formação de vesículas e necrose. O documento também adverte que não deve-se utilizar por um período superior a sete dias em concentração recomendada de 3 g flores secas em 150 mL água para uso externo aplicado na forma de compressa, duas a três vezes ao dia como anti-inflamatório em contusões e distensões, nos casos de equimoses e hematomas.
Composição química: Constituintes, como flavonóides (0,4-0,6%), sesquiterpenos, acetilenos, hidroxicumarinas e ácidos fenil acrílicos e óleo essencial (0,2-0,35% nas cabeças das flores e 0,2-0,5% nas folhas), ácidos fenolcarbônicos [tal como ácido clorogênico (ácido 5-o-cafeoilquínico)], ácido cinarina 1,3-di-O-cafeoilquínico, ácido cafeico, umbeliferona, escopoletina, ácido 2-pirrolidinaacético e epímeros C-1 dos dois ácidos pirrolizidínicos e após extração de Soxhlet por metanol traços de alcalóides pirrolizidínicos (tussilagina e isotussilagina), segundo Kriplani, Guarve e Baghael (2017), foram isolados das flores de Arnica montana L.. Além dos constituintes, as flores da espécie contêm especialmente diferentes lactonas sesquiterpênicas, especialmente os ésteres helenalina e dihidro-helenalina, que parecem ser os principais princípios ativos da espécie, a quantidade total de lactonas sesquiterpênicas varia com a maturidade das flores secas. As lactonas sesquiterpênicas são relatadas como bons agentes anti-inflamatórios e citotóxicos.
Além destes, hispidulina, isoramnetina, campferol, laciniatina, luteolina, patuletina, quercetina, espinacetina, tricina, 3,5,7-triidroxi-6,3’, 4’-trimetoxiflavona), terpenóides (sesquiterpênicos, inclusive derivados de helenalina e diideoelenalina – cerca de 0,5% – arnifolina e os arnicolídeos), óleos voláteis (até 1%, geralmente 0,3% – timol e seus derivados), princípio amargo (arnicina), ácido caféico, carotenóides, fitosteróis, resina, tanino (não especificado) são citados por Newall, Anderson e Phillipson (2002).
Ações farmacológicas: A planta encontra-se descrita em Farmacopéias de vários países, inclusive em edições da Farmacopeia Brasileira. Tal como exposto por Maciel et al. (2006), em estudos animais foi confirmada a atividade antinflamatória de extratos da planta, atividade atribuía a presença de lactonas sesquiterpênicas do tipo helenalina (HALL et al., 1979; LYSS et al., 1997 apud MACIEL et al., 2006) explicados pela inibição seletiva do fator de transcrição NF-kappaB (RUNGELER et al., 1999; KLASS et al., 2002 apud MACIEL et al., 2006). As lactonas sesquiterpênicas desencadeiam também ação citotóxica contra hepatócitos humanos (WOERDENBAG et al., 1994 apud MACIEL et al., 2006) por isso seu uso interno não é recomendado.
Interações medicamentosas: A administração de tisanas ou tinturas pode interagir com drogas digitálicas devido a seu efeito inotrópico positivo (ALONSO, 2004).
Efeitos adversos e/ou tóxicos: A planta pode ocasionar efeitos tóxicos quando usada internamente (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002), pode haver irritação das membranas mucosas e sua ingestão pode causar náuseas, vômitos, dor no estômago, cólicas abdominais, agitação, convulsões, tontura, diarréia e tremores (MILLS; BONE, 2000), além de gastrenterite fatal, paralisia muscular (voluntária e cardíaca), palpitações, falta de ar e até morte (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002). O princípio tóxico responsável por esses efeitos é a helenalina.
A aplicação tópica também deve ser moderada, pois formulações podem provocar dermatite, devido ao fato de a planta ser forte sensibilizante (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002).
Além disso, o uso prolongado pode causar eczema, e se utilizada em pele não-íntegra pode causar dermatite edematosa com formação de pústulas. Em altas doses pode causar formação de vesículas e até necrose (MILLS; BONE, 2000).
Contraindicações: Não deve ser ingerida exceto em diluições homeopáticas adequadas (ALONSO, 2004). Deve ser utilizada com cuidado em pessoas alérgicas (BOTSARIS, 2002), pois alguns indivíduos não toleram a aplicação tópica (dermatite de contato) (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002). Deve-se evitar uso em alérgicos a arnica ou a outras plantas da família Asteraceae (incluindo camomila, calêndula e mil-folhas) (MILLS; BONE, 2000). Não deve ser aplicada em feridas abertas (apenas em pele íntegra) e nem perto dos olhos e da boca. Ao primeiro sinal de reação o uso deve ser suspenso. O uso interno é contraindicado na gravidez, na lactação, em portadores de úlcera gástrica, epilepsia (NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002) ou portadores de hepatopatia. Não recomenda-se o uso prolongado, mesmo que externamente (MILLS; BONE, 2000).
Posologia e modo de uso: Kriplani, Guarve e Baghael (2017) relatam que numerosas preparações homeopáticas da planta estão disponíveis no mercado. Além disso, segundo os autores, na farmacopéia européia (1809), a tintura de A. montana deve ser produzida a partir das flores da espécie que resultam em 0,04% de lactonas sesquiterpênicas expressas como tiglato de diidrohelenalina. A tintura contém uma parte da droga vegetal em 10 partes de etanol (60% (V/V) a 70% (V/V)). A tintura pode ser seca por evaporação e o extrato é incorporado em vários medicamentos fitoterápicos.
No formulário de fitoterápicos da farmacopéia brasileira (2021), as principais fórmulas com a espécie são: Preparação extemporânea com 2 g de flores em 100 mL de água; e Tintura com 10 g de flores em 100 g de álcool etílico 60% ou 70% (v/v).
Faz-se cataplasma para uso externo com a infusão da planta. Com a tintura da flor (10% m/v), incorpora-se 20 a 25 mL em pomadas base de pomada simples q.s.p. 100 g (BRASIL, 2021) e utiliza-se para distensões, contusões e dores musculares aplicando topicamente uma fina camada, de duas a três vezes ao dia, seguido de massagem.
Referências:
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