PENICILINA
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Sinonímias: Telanthera ramosissima (Mart.) Moq.; Telanthera brasiliana (L.) Moq.; Telanthera dentata Moq.; Achyranthes brasiliana (L.) Standl.; Caraxeron brasiliense Raf.; Gomphrena brasiliana L.;
Nomes populares: sempre-viva, caaponga, carrapichinho, carrapichinho-do-mato, perpétua-do-brasil, perpétua-do-mato, quebra-panela, cabeça-branca, acônito-do-mato, ervanço, nateira, terramicina, infalível, doril, penicilina (penicilina-vegetal).
Origem ou Habitat: América tropical.
Características botânicas: Erva perene, ereta, até 1,5 m de altura, muito ramificada, pubescente, caule verde até roxo. Folhas com 4-15 cm de comprimento, 3-6 cm de largura, pecioladas, opostas, acuminadas no ápice, glabras ou pubescentes, margens inteiras, verdes até violáceas. Inflorescências do tipo espigas, globosas, cerca de 1 cm de diâmetro, brancas ou amareladas. Flores com cerca de 5 mm de comprimento, 5 tépalas, estames alternados por estaminódios, ovário súpero, estilete curto. Fruto utrículo, sementes castanho-escuras.
Partes usadas: Folhas e flores.
Uso popular: Além de cultivada como ornamental pelo colorido arroxeado de suas folhas e ramos, é amplamente utilizada na medicina popular em quase todo o Brasil.
A infusão de suas folhas é considerada diurética, digestiva, depurativa, sendo empregada para moléstias do fígado e bexiga.
As populações nativas e indígenas das Guianas usam suas folhas como adstringente e antidiarreica, enquanto que a planta inteira é macerada e usada contra prisão de ventre.
A população da região amazônica usa a infusão das flores contra diarreia, inflamação e tosse (béquica), enquanto a decocção das folhas é usada internamente em caso de derrame cerebral. O banho preparado com as folhas é utilizado para “deslocamento de osso”.
As partes aéreas são empregadas em estados infecciosos do trato respiratório e as flores contra tosse.
Segundo as comunidades da Ilha de Santa Catarina, é indicado o uso interno do infuso das folhas em estados gripais. Externamente, é usado para gargarejos em caso de inchaço e inflamação da boca e da garganta, para lavar feridas e micoses e para corrimento vaginal.
Informações científicas: 🐁 (AN*): Estudo com o extrato aquoso das partes aéreas mostrou potencial anti-inflamatório e analgésico em modelos experimentais (Formagio et al., 2012). Outro trabalho mostrou efetividade para tratamento de feridas decorrentes de queimaduras (Baru et al., 2012).
*AN: estudos pré-clínicos realizados em animais.
Observação do uso clínico em Florianópolis: O uso externo da infusão preparada com as folhas tem boa resposta como vulnerária, para lavar feridas e lesões herpéticas, e pode ser usada também em afecções da orofaringe, infecções urinárias e em vulvovaginites.
Cuidados para o uso desta espécie: Devido à falta de estudos sobre interações medicamentosas desta espécie, o seu uso concomitante a outros medicamentos deve ser cauteloso. Evitar o uso em gestante, lactantes crianças menores de 6 anos. O uso interno desta planta ainda não tem a sua segurança estabelecida.
Posologia e modo de uso
Uso externo: Infusão preparada com 4-6 folhas vermelhas frescas rasuradas para 1 xícara (200 ml) de água fervente, após abafar por 15 minutos, utilizar para uso tópico em feridas e machucados e na forma de gargarejo em caso de inflamações de garganta.
Observações: Na literatura tradicional, esta espécie é citada como o nome popular de “Perpétua-do-Brasil” (PIO CORRÊA, 1926-1978). No entanto, nos últimos anos, este vegetal tem sido designado popularmente com o nome de diferentes antibióticos como penicilina, terramicina, neomicina . É uma planta pouco conhecida no que diz respeito aos efeitos adversos, toxicidade, constituição química e atividade farmacológica.
As espécies Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze e Alternanthera dentata (Moench) Stuchlik são igualmente conhecidas por “penicilina”, sendo encontradas no Brasil, mais comumente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Possuem propriedades e usos populares semelhantes.
Composição química: Estudos fitoquímicos preliminares feitos com A. brasiliana indicaram a presença de terpenos, esteróides e compostos fenólicos. No extrato hexânico foi confirmada a presença de fitosterol e β-sitosterol; estes compostos, juntamente com outros grupamentos existentes nas frações mais polares, podem justificar a ação analgésica, com potência equivalente ao ácido acetilsalicílico e ao paracetamol, evidenciada com o extrato hidroalcoólico desta espécie.
Brochado et al. (2003), isolaram seis flavonóides da A. brasiliana: canferol 3-O-robinobiosideo-7-O-alfa-ramnopiranosideo, quercetina 3-O-robinobiosideo-7-O-alfa-L-ramnopiranosideo, quercetina 3-O-robinobiosideo, canferol 3-O-robinobiosideo, canferol 3-O-rutinosideo-7-O-alfa-L-ramnopiranosideo e canferol 3- O-rutinosideo.
Referências:
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3. LAGROTA, M. H. C. et al. Inhibitory Activity of Extracts of Altemanthera brasiliana (Amaranthaceae) Against the Herpes Simplex Virus. Phytotherapy Res., [S.I], v. 8, p. 358-361, 1994.
4. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008. p. 46-47.
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7. PIO CORRÊA, M. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas. 6. ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926-1978.
8. RIBEIRO, L. S. et al Isolamento da Fração Imunomoduladora do Extrato Etanólico de Altemanthera brasiliana (Amaranthaceae). In: SIMPÓSIO DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL, XIII, Fortaleza, 1994. Resumos. Fortaleza: [s.i], set. 1994. n. 293.
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11. FORMAGIO, E.L., et al., Evaluation of the pharmacological activity of the Alternanthera brasiliana aqueous extract. Pharmaceutical Biology. Nov 50:11, 1442-1447.2012. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.3109/13880209.2012.688058>.
12. BARU, C. C., et al., Effect of Alternanthera brasiliana (L) Kuntze on healing of dermal burn wound. Indian Journal of Exp. Biol. 2012 Jan; 50(1):56-60. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22279942/>.