GENGIBRE

09/02/2020 21:57

Zingiber officinale   Roscoe.

Zingiberaceae 


SinonímiasAmomum zingiber L., Zingiber aromaticum Noronha, Zingiber majus Rumph., Curcuma longifolia Wall.

Nomes populares: Gengibre, jengibre(Espanha), mangarataia.

Origem ou Habitat: Ásia.

Características botânicas: Segundo a descrição de LORENZI & MATOS, é uma erva rizomatosa, perene, ereta, com cerca de 60-120 cm de altura. Folhas simples, lanceoladas, invaginantes, de 15-30 cm de comprimento. Flores estéreis, verdosas ou branco-amareladas com manchas púrpuras dispostas em espigas radicais de até 7 cm de largura. Rizoma ramificado, de cheiro e sabor picante, agradável.

Partes usadas: Rizomas.

Uso popular: Tradicionalmente o gengibre é utilizado para tratar afecções intestinais, especialmente os problemas digestivos, com indicação nos casos de dispepsias e como carminativo nas cólicas flatulentas. Possui ação antimicrobiana local, combatendo a rouquidão e a inflamação da garganta, além de gripes, resfriados e sinusite. O gengibre é um dos melhores remédios para combater as náuseas (enjoos de viagem, enjoos produzidos pelo tratamento com quimioterapia, enjoos de gravidez, enjoos pós-operatório, etc.). É usado em casos de úlceras e diarreia. Tem ainda ação anti-inflamatória, anti-reumática, antiviral, antitussígena, anti-trombose, cardiotônica, colagogo, antialérgica e protetora do estômago. É amplamente usado na cozinha, em suas diferentes formas: gengibre fresco, gengibre caramelizado, gengibre em conserva em xarope de açúcar, gengibre curtido no vinagre, em pó e seco.

Informações científicas: 👥(HU): O gengibre pode ser útil no enjoo da gravidez (Matthews, 2015), e pós operatório (Chanaiyakunapruk, 2006). Há limitada evidência de melhora no quadro de diabetes tipo II (Mahluji et al., 2013; Shidfar et al., 2015), bem como sobre seu efeito na obesidade.

Observação do uso clínico em Florianópolis: O uso interno da infusão preparada com os rizomas do gengibre apresenta boa resposta em sintomas de gripes, resfriados, casos de cinetose, enjoos e vômito devido à quimioterapia. O uso externo da decocção é usado em compressas locais no pescoço em casos de afonia, rouquidão e dores musculares e articulares.

Cuidados no uso desta espécie: O uso do gengibre pode provocar interações com várias classes de medicamentos (anticoagulante, antidiabética e anti-hipertensão arterial). Devido a atividade cardiotônica e anti-agregante plaquetária (in vitro) e hipoglicemiante (in vivo) do gengibre, é recomendado não administrar altas doses porque pode interferir com a medicação de base em pacientes com insuficiência cardíaca, coagulopatias e diabetes (Newall C. et al., 1996 apud Alonso, J., 2004). Em ensaios feitos em animais, os extratos de gengibre aumentaram a absorção de sulfaguanidina ao redor de 150% comparado a grupos controle (Sakai K. et al., 1987 apud Alonso, J., 2004).

Durante a gravidez e lactação utilizar no máximo 1 (um) grama por dia. Não usar gengibre fresco em casos de aftas. Não utilizar gengibre em caso de cálculos biliares, gastrite e hipertensão arterial. Em relação à tintura, não usar em gestantes, lactantes, alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico na formulação. Não usar em caso de tratamento com anticoagulantes, pois pode exacerbar seu efeito (Anvisa, 2018).

O gengibre é inócuo nas doses recomendadas. Não tomar doses diárias de extratos do pó superiores a 2g. Doses superiores a 6g diárias podem produzir úlceras ou gastrites.

Posologia e modo de uso: 

🍵 Uso interno: Chá preparado por decocção de até 50g dos rizomas em 2 litros de água. Após esfriar, ingerir uma xícara até 3 vezes ao dia por no máximo duas semanas.

Uso externo: Compressa da decocção preparada com os rizomas, em casos de dores musculares e contusões.

Tintura: Utilizar 20 gramas dos rizomas para 100 ml de álcool etílico 70% e armazenar em vidro escuro protegido da umidade e da luz. Tomar 2,5 mL da tintura, diluídos em 50 mL de água, uma a três vezes ao dia. A indicação dessa tintura é como antiemético e nos casos de cinetose (Shidfar et al., 2015)

OBS: Não usar a tintura em gestantes, lactantes, alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico na formulação.

Composição química: Óleo essencial (0,5-3%): composto por monoterpenos: canfeno (8%), alfa-pineno (2,5%), cineol, citral, borneol, mirceno, limoneno, felandreno; composto por sesquiterpenos: A-anforfeno, B-cariofileno, B-elemeno, B-ilangeno, calemeneno, capaeno, ciclo-copacanfeno, ciclosafireno, cis-G-bisaboleno, selina-zonareno, germacraneno B, sesquifelandreno, trans-B-farneseno, zingibereno, bisaboleno; álcoois sesquiterpênicos: necrolidol, elemol, bisabolol, sesquisabineno, trans-B-sesquifelandrol, zingiberenol, B-eudesmol; Outros: hidrocarbonetos (undecano, hexadecano, dodecano, folueno, p-cimeno, etc.), álcoois alifáticos: (2-butanol, 2-heptanol, 2-nonanol), aldeídos alifáticos (butanal, 2-metil-butanal, 3-metil-butanal, pentanal), cetonas (acetona, 2-hexanona, 2-novanona, heptanona, criptona, carvatanacetona, metil-heptanona), aldeídos monoterpênicos (citronelal, mistenal, felandral, neral, geranial).

Compostos picantes presentes na fração resinosa (5-8%): gingerdióis e gingeróis: 6-8-10- gingerol (raiz fresca) e por dessecação: zingerona, zingibereno, 6-8-10- sogaol, fenilfalcanonas, gingerenonas A,C, isogingerenona B, gingerdiona e 1-dihidrogingerdiona. Outros: amido (60%), ácido fosfatídico, lecitina, proteínas, vitaminas e minerais.

-Óleo essencial:

  • Monoterpenos: Canfeno, cineol, citral, felandreno, dentre outros.
  • Sesquiterpenos: Sesquifelandreno, trans-B-farneseno, bisaboleno, zingibereno, dentre outros.
  • Gingeróis: 6-8-10- gingerol (raiz fresca), 6-8-10- Shogaol, zingerona, gingerdiona(dessecação), dentre outros.
  • Diarileptanóides: Gingerenonas A, B e C (dessecação)
  • Monoacil digalactosil gliceróis:Gingerglicolipideos A, B e C.
  • Aldeídos monoterpênicos: Citronelal, neral, geraniale, dentre outros.

Observações: O rizoma de gengibre encontra-se registrado pelo FDA norte-americana e o Council of Europe como suplemento dietético e droga anti-nauseosa. O gengibre cru, em forma de extrato fluido ou como óleo-resina é considerado oficinal pela United States Pharmacopeia (USP) e pelo National Formulary, tendo indicações como carminativo, aromático e estimulante. A Comissão “E” de Monografias da Alemanha inclui o uso do gengibre em casos de dispepsias e na profilaxia de enjoos e náuseas de viagem. A ESCOP da Europa indica o uso preventivo do gengibre em casos de náuseas, vômitos e como medicação antiemética pós-cirúrgica. Os Ministérios da Saúde de Bolívia, Brasil, Colômbia e Cuba reconhecem o rizoma de gengibre para uso medicinal humano. O rizoma do gengibre encontra-se incorporado nas seguintes Farmacopeias: Argentina, Áustria, Austrália, Bélgica, Brasil, China, Korea, Egito, Filipinas, França, Gran Bretanha, Holanda, Índia, Japão, Suíça e Vietnam.

Referências: 
1. ALONSO, J. Tratado de Fitofármacos y Nutracéuticos. Rosario, Argentina: Corpus Libros, 2004.

2. ALSHERBINY, Muhammad A. et al. Ameliorative and protective effects of ginger and its main constituents against natural, chemical and radiation-induced toxicities: A comprehensive review. Food And Chemical Toxicology, [s.l.], v. 123, p.72-97, jan. 2019.

3. GHOSH, A.k. et al. ZINGIBER OFFICINALE: A NATURAL GOLD. International Journal Of Pharma & Bio Sciences, East Sikkim, v. 2, n. 1, p.283-294, jan. 2011.

4. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2.ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008.

5. MAHBOUBI, Mohaddese. Zingiber officinale Rosc. essential oil, a review on its composition and bioactivity. Clinical Phytoscience, [s.l.], v. 5, n. 1, p.1-12, 15 jan. 2019.

6. http://www.botanical-online.com/medicinalsgengibre.htm – acesso em 16 de setembro de 2012.

7. http://www.sabetudo.net/ch-de-gengibre.html – foto2- acesso em 16 de setembro de 2012.

8. http://sinuhesilvavieira.blogspot.com.br/2012/05/gengibre-para-que-serve.html – foto3 – acesso em 16 de setembro de 2012.

9. http://www.tropicos.org/Name/34500018?tab=synonyms – foto1- – acesso em 16 de setembro de 2012.

10. MATTHEWS A., Interventions for nausea and vomiting in early pregnancy. CochraneDatabas e of Systematic Reviews 2015, Issue 9. Disponível em: https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD007575.pub4/full

11. CHANAIYAKUNAPRUK N., The efficacy of ginger for the prevention of post-operative nausea and vomiting: a meta-analysis. American Journal of Obstetrics and Gynecology 2006; 194(1): 95-99. Disponível em: https://www.ajog.org/article/S0002-9378(05)00891-4/fulltext

12. MAHLUJI, S., et al., Effects of ginger (Zingiber officinale) on plasma glucose level, HbA1c and insulin sensitivity in type 2 diabeticpatients.International JournalOf FoodSciencesAndNutrition,[s.l.], v. 64, n. 6, p.682-686, 18 mar. 2013. InformaUKLimited. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.3109/09637486.2013.775223?journalCode=iijf20

13. SHIDFAR, F. et al., The effect of ginger (Zingiber officinale) on glycemic markers in patients with type 2 diabetes. Journal of Complementary and Integrative Medicine, [s.l.], v. 12, n. 2, p.165-170, 1 jan. 2015. Walter de Gruyter GmbH. Disponível em: https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jcim-2014-0021/html

14. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira Primeiro suplemento. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: ANVISA, 2018. Página 95.

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