AGRIÃO

26/12/2019 10:59

Nasturtium officinale   W.T. Aiton.

Brassicaceae 


Sinonímias:Segundo o Tropicos.org (site de nomenclatura botânica)existem 57 sinonímias para esta espécie, citaremos algumas: Sisymbrium nasturtium-aquaticum L., Cardaminum nasturtium Moench, Cardamine nasturtium-aquaticum (L.) Borbás, Radicula nasturtium-aquaticum (L.) Britten & Rendle, etc.

Nomes populares: agrião, agrião-aquático, agrião-d’água, agrião-da-europa, agrião-das-fontes, agrião-de-lugares-úmidos, agrião-oficial, berro, berro-d’água, mastruço-dos-rios, nastúrcio, etc.

Origem ou Habitat: Europa.

Características botânicas: Herbácea perene, de porte pequeno, aquática, aromática, de 15 até 80 cm de altura. Têm ramos ocos, decumbentes e suculentos, livremente radicantes, com nós que, em contato com a terra, enraízam. Possui raízes adventícias, folhas verde escuras, alternas, compostas pinadas e ovais, com folíolos irregulares, de 5 a 13 cm de comprimento. Flores pequenas, brancas, de 4 a 5 mm de diâmetro, reunidas em panículas terminais. Multiplica-se por sementes e por estaquia, devendo ser plantada na beira de córregos com água corrente. Nativa da Europa e Ásia (Drescher, 2001; Lorenzi & Matos, 2002; Alonso, 2004).

Partes usadas: Folhas e talos.

Uso popular: É indicado em afecções do sistema respiratório, como asma, bronquite e tosse (Corrêa, et al., 1998; Cunha, 2003). Empregado popularmente como tônico e estimulante dos órgãos digestivos, diurética e vermífuga, antiescorbútica, útil no combate ao raquitismo, contra escrofulose, tendo propriedades laxantes, contraceptiva e afrodisíaca. As folhas, na forma de salada, são indicadas contra o bócio, anemia, tuberculose, diabetes e como antídoto aos efeitos tóxicos da nicotina (Lorenzi & Matos, 2002; Alonso, 2004). É preconizada a sua ação cicatrizante, sendo utilizada na forma de cataplasma em uso externo, além de outras afecções dermatológicas, como caspa, acne, eczemas e furúnculos. Útil para diminuir a queda do cabelo (Lorenzi & Matos, 2002; Corrêa, et al., 1998; Alonso, 2004; Cunha, 2003). Indicada também para constipação, anemia carencial, quadros de astenia e dores de origem reumática (Corrêa, et al., 1998). Na Índia, os centros comunitários de saúde preconizam o uso do pó das folhas trituradas para o combate do parasita hepático Clonorchis sinensis, enquanto que na Alemanha utiliza-se tanto o suco como a infusão da planta como antisséptico em infecções do trato urinário (Alonso, 2004).

Composição química: O agrião contém gliconasturcina, o precursor glicosinolato do feniletil isotiocianato (PEITC), benzil glicosinolato e benzil isotiocianato (BITC) (Fetrow, 2000). Nas partes aéreas encontra-se provitamina A, vitaminas B2, B6, C e D, nicotinamida, manganês, ferro, fósforo, iodo, cálcio, L-fenilalanina (a maior parte se transforma em ácido benzóico, devido ao processo fisiológico do vegetal), rutina (72 mg/100 g), nitritos (3-fenilpropionitrilo, 8-metiltiooctanon-nitrilo, etc) e flavonoides (3-O-soforosídeos de ramnetina, ramnazina), megastigmano (Alonso, 2004). Possui ainda triterpenos e tetra-nortriterpenos (limonoides e protolimonoides do grupo gedunino), taninos (Cunha, 2003) e carotenos (Drescher, 2001; Kopsell, et al., 2007).

Em revisão literária da composição química também foram encontrados: glucosinolatos: gluconasturtiina, glucobrassicina, 4-metoxiglucobrassicina, 4-hidroxiglucobrassicina, glucoibarina. Carotenóides: β-caroteno, luteína e zeaxantina. Flavonoides: Quercetina, kaempferol e isoramnetina (Hakansson, 2018).

Análise proximal de 100 g da planta ingerida: calorias (21), proteínas (1,6g), gorduras totais (0,3 g), hidratos de carbono (2,9 g), fibra (1 g), água (93,5 g), sódio (12 mg), potássio (276 mg), cálcio (180 mg), fósforo (64 mg), magnésio (34 mg), ferro (3,1 mg), provitamina A (450 microg), vitaminas B1 (0,09 mg), B2 (0,20 mg), B3 (0,7 mg), B6 (0,30 mg), vitamina C (51-60 mg), iodo (0,048 mg na planta seca) (Alonso, 2004).

Ações farmacológicas: Os compostos sulfurados do agrião possuem propriedades expectorantes e antissépticas sobre a árvore respiratória. O organismo converte a gliconasturcina em feniletil isotiocianato (PEITC), que também é liberado quando se mastiga a planta fresca. Em modelos com animais, o PEITC e os isotiocianatos sintéticos atuaram como inibidores do carcinogênico específico do tabaco, a nitrosamina-4-(metilnitrosamino)-1-(3-piridil)-1-butanona (NNK) (Fetrow, 2000; Alonso, 2004). Os glicotiocianatos normalmente estimulam as secreções gástricas e biliares, principalmente após mascar as folhas do agrião. O feniletilsevenol é empregado na forma de loção capilar para diminuir a queda dos cabelos, existindo, inclusive, produtos comerciais com o composto (Alonso, 2004). O ácido benzóico, na forma isolada, evidenciou propriedades antissépticas, expectorantes, analgésicas, antifebris e anti-inflamatórias. O extrato metanólico das folhas demostrou propriedades anti-inflamatórias in vivo, enquanto o sumo das folhas do agrião evidenciou atividade inibitória in vitro sobre o Mycobacterium tuberculosis, em concentrações mínimas de 1:20 microlitros (Alonso, 2004). Em um estudo com cobaias submetidas à dieta rica em gorduras, a administração do extrato hidroalcoólico demonstrou potente atividade cardio-protetora, diminuindo níveis de triglicerídeos, colesterol total, LDL-colesterol, e aumentado os níveis de HDL-colesterol (Bahramikia & Yazdanparast, 2008).

Interações medicamentosas: O agrião pode inibir o metabolismo oxidativo do paracetamol, por isso deve-se evitar o uso concomitante (Fetrow, 2000). Por meio da sua interação com o sistema citocromal CYP2E1, inibe o metabolismo da droga clorzoxazona e interfere levemente com o metabolismo do etanol (Alonso, 2004).

Efeitos adversos e/ou tóxicos: Se consumida em doses elevadas ou por uso prolongado, pode produzir irritação das mucosas gástrica e urinária (Corrêa, et al., 1998; Drescher, 2001 Alonso, 2004). Cunha (2003) coloca que a ação irritativa sobre a mucosa gástrica se daria pelos taninos contidos na planta, enquanto os glicosinolatos poderiam originar bócio. A aplicação por via externa da planta em estado fresco pode levar a dermatite de contato em pessoas sensíveis, devido a presença de feniletil isotiocianatos (Alonso, 2004). Corrêa, et al (1998) e Drescher (2001) apontam risco de aborto em altas doses ou uso prolongado.

Contra-indicações: Não deve ser consumida durante o período de floração, por conter altas concentrações de glicosinolatos, tornando-se perigosa para o consumo humano neste período (Alonso, 2004). O extrato do agrião ainda não foi testado em situações de gravidez e lactação, por isso, seu uso não é recomendado durante estes períodos. Quanto à planta crua, em saladas, recomenda-se às gestantes não ingerir em altas quantidades. Contraindicado o uso interno do extrato em casos de úlceras gástricas ou duodenais, irritações na mucosa das vias urinárias, e em crianças menores de 4 anos (Alonso, 2004).

Posologia e modo de uso: Utiliza-se a infusão, com 2 g das folhas secas por xícara de água fervente (ou 10 g das folhas frescas), várias vezes ao dia, ou a sua decocção, fervendo por 3 minutos de 3 a 5 g de folhas frescas por xícara. Tomar 2 vezes por dia (Alonso, 2004; Cunha, 2003).

Para as afecções pulmonares, tosse e bronquite, é recomendado o seu xarope preparado com 1 colher de sopa de folhas e ramos picados em 1 xícara de água em fervura, adicionando ao seu coado 1 xícara de chá de açúcar cristal e fervendo-se novamente até derreter; em seguida acrescentar 1 colher de sopa de mel e tomar 1 colher de sopa, de 2 a 3 vezes por dia (Lorenzi & Matos, 2002). Pode-se usar o suco da planta, preparado a partir de 60-150 g das folhas, tomando de 3 a 4 colheres de sopa por dia (Alonso, 2004).

Para uso externo, contra problemas de pele (manchas, sardas, acnes, eczemas) e para problemas da mucosa oral (aftas e gengivites), recomenda-se o seu extrato alcoólico preparado com 2 colheres de sopa de folhas e ramos amassados, 1 xícara de café de álcool de cereais e 1 xícara de café de glicerina (Lorenzi & Matos, 2002).

Observações: O agrião é um importante vegetal para consumo humano já que a ingesta de 100 g oferece quase a dose diária requerida em adultos de vitamina C e boa parte das necessidades diárias de vitaminas A, B1, B2 e B6, e dos minerais cálcio e ferro. Para aproveitar o máximo do seu potencial nutritivo, aconselha-se eliminar a parte dura do caule e evitar as folhas em mau estado (Alonso, 2004).

O agrião é utilizado na medicina popular há muitos séculos. Hipócrates, o pai da medicina, recomendava a planta como expectorante (Alonso, 2004).

Referências: 

ALONSO, Jorge. Tratado de Fitofármacos y Nutracéuticos – 1. ed.; Argentina, Rosario. Corpus Libros, 2004. Pp. 218-220.

BAHRAMIKIA, S. e YAZDANPARAST, R. Effect of hydroalcoholic extracts of Nasturtium officinale leaves on lipid profile in high-fat diet rats. Journal of Ethnopharmacoly 2008 Jan 4;115(1):116-21. Epub 2007 Sep 25. Acessado em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17980985?dopt=AbstractPlus.

CORRÊA, Anderson D., SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo; QUINTAS, Luís E. M. Plantas Medicinais: Do Cultivo à Terapêutica. – 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. Pp. 65-66.

CUNHA, A. P., SILVA, A. P., ROQUE, O. R. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. 2003. Pp. 78-79

DRESCHER, Lírio (coordenador). Herbanário da Terra – Plantas e Receitas. – 1. ed. 2001. Pp. 23.

HAKANSSON, R. B. Revisão literária da composição química das plantas constantes no site do Horto Didático de Plantas Medicinais da UFSC (parte I). Orientadora: Maique Weber Biavatti, TCC (Graduação) – Curso de Farmácia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

FETROW, Charles W., AVILA, Juan R. Manual de Medicina Alternativa para o Profissional. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ. 2000. Pp 44-46.

KOPSELL, DA., BARICKMAN, TC., SAMS, CE. e MCELROY, JS. Influence of Nitrogen and Sulfur on Biomass Production and Carotenoid and Glucosinolate Concentrations in Watercress (Nasturtium officinale R. Br.) Journal of Agricultural and Food Chemistry, 2007, 55 (26), pp 10628–10634. Acessado em: http://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/jf072793f

LORENZI, Harri; MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. – 1a. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002. Pp. 191.

STUART, Malcolm. Enciclopedia de Hierbas y Herboristería. Ediciones Omega, S. A., Barcelona, 1981. Pp. 228.

Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. 05 Jul 2011.

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