ABACAXI

27/10/2019 21:47

Ananas comosus (L.) Merril

Bromeliaceae


Sinonímias: Bromelia comosa L., Bromelia ananas L., etc.

Nomes populares: abacaxi, ananás, pineapple (inglês), piña (espanhol), etc.

Origem ou Habitat: Nativo do Brasil, principalmente no cerrado do Brasil (LORENZ et al., 2002). Foi utilizado por povos originários na bacia dos rios Paraná-Paraguai. (BERTONI, 1919 apud CRESTANI et al., 2010).

Características botânicas: Planta herbácea perene, quase acaule, com folhas em forma de espadas canaliculadas e margens grosseiramente espinhentas e serreadas, dispostas em roseta na base da planta, medindo de 60 a 90 cm de altura. Flores numerosas, de cor lilás, com brácteas vermelhas, dispostas num racemo denso na extremidade de uma longa haste floral. Sementes ausentes ou muito raras (LORENZ et al., 2002).

O fruto do abacaxi é caracterizado por um aglomerado de uma ou duas centenas de pequenos frutos (gomos) em torno de um mesmo eixo central, em que cada “olho” ou “escama” da casca do abacaxi é um fruto verdadeiro que cresceu a partir de uma flor, e estes se fundem em um grande corpo, chamado infrutescência, no topo do qual se forma a coroa (SILVA et al., 2001 apud CRESTANI et al., 2010).

Partes usadas: Polpa e casca dos frutos (infrutescência).

Uso popular: O abacaxi é uma fruta (infrutescência) muito apreciada, sendo consumido in natura, enlatado, congelado, em calda, cristalizado, em forma de passa e picles e utilizado na confecção de doces, sorvetes, cremes, balas e bolos. É também consumido na forma de suco, refresco, xarope, licor, vinho, vinagre e aguardente e serve de matéria-prima para a extração de álcool e ração animal, pela utilização dos resíduos da industrialização (CRESTANI et al., 2010). A polpa e as cascas do fruto são comumente utilizadas em xaropes para tosse.

A população também utiliza a planta como carminativo, estomáquico, anti-inflamatório, diurético e para problemas gerais das vias respiratórias. O fruto é utilizado topicamente com farinha de trigo em emplastro para lesões de psoríase, eczema e contusões (LORENZ et al., 2002).

Composição química: O fruto é abundante em açúcar, se amadurecido na planta, é muito rico em sais minerais e vitaminas A, B1, B2 e C, em que cada 100 g de polpa fresca de abacaxi contém aproximadamente 50 quilocalorias, 89% de água, 0,3% de proteína, 0,5% de lipídios, 5,8% de glicídios, 3,2% de celulose e 0,3% de sais, apresentando quantidade considerável de potássio, ferro, cálcio, manganês e magnésio (GOMES, 1976; SOARES et al., 2004 apud CRESTANI et al.,2010). 

Entre os constituintes do aroma do abacaxi, encontram-se a furanona (4-hidroxi-2,5-dimetil-3[2H]-furanona (HDF) ou furaneol), ésteres como 2-metilbutanoatos de metila e etila, 2-metilpropanoato de etila, hexanoato de metila, 3-(metiltio)propanoatos de metila e etila, como também vários hidroxi e acetoxi ésteres, γ-lactonas e o 1-(E,Z)-3,5-undecatrieno (MENETTI et al. 2009). Os cicloartanos ácido ananásico, ananasasídeos A e B também já foram isolados da espécie (SUTHERLAND et al., 1959 apud MANETTI et al. 2009.)

Além, destes, no tecido do caule do abacaxi foi demonstrado a presença de ácidos cinâmicos, di-p-cumarato de quinila e outros ésteres do ácido quínico (MA et al., 2007 apud MANETTI et al. 2009.)

Outro estudo identificou 6 lignanas dietéticas nos frutos de Ananas comosus pinoresinol, medioresinol, siringaresinol, lariciresinol, secoisolariciresinol e matairesinol (PARADA et al., 1995 apud MENETTI et al., 2009).Efeitos adversos e/ou tóxicos: Os frutos verdes são abortivos.

Ações farmacológicas: Ensaios clínicos têm sido publicados para apoiar as alegações terapêuticas para a bromelina (CHAKRABORTY el al., 2021), substância presente no extrato aquoso bruto do abacaxi. A bromelina, obtida também do resíduo da industrialização do abacaxi, é um grupo de enzimas do complexo proteolítico que protege o fruto da depredação por larvas de insetos, apresentando grande valor comercial devido à sua aplicabilidade, tal como exposto por Manetti et al. (2009), na indústria farmacêutica (possível atividade anti-helmíntica, anti-inflamatória e anticancerígena) e na indústria alimentícia (amaciante de carnes vermelhas, produção de cerveja, pães, leite de soja e ovos desidratados).

Além disso, a substância é considerada diurética e depurativa, sendo utilizada no tratamento de hematomas, contusões e também como expectorante de mucosidades no sistema respiratório (MANETTI et al., 2009).

Um estudo in vivo, em animal, mostrou que a bromelina pode funcionar como imunomodulador, sendo antimetastático, antiedematoso, antitrombótico e anti-inflamatório (BAEZ et al., 2007).

Além disso, em relação a atividade de bromelina como anti-helmíntica contra nematóides gastrointestinais, um estudo documentou a atividade para Trichuris murisTrichoderma viride e Heligmosomoides polygyrus (STEPEK, G., et al. 2006).

Interações medicamentosas: O Observatório de Interações Planta-medicamento (OIPM), cita em sua base de dados de interações, que o abacaxi (Ananas comosus) poderia interagir com o medicamento antiviral Indinavir, diminuindo a concentração plasmática, de forma que pode comprometer o efeito terapêutico do antiviral (HU et al. 2005 apud OIPM, 2022).

Efeitos adversos e/ou tóxicos: Devido às suas propriedades ácidas, pessoas com sensibilidade ao fruto podem sofrer de aftas na mucosa oral pela ingestão.

Contra-indicações: Não consumir o abacaxi verde em pessoas sensíveis.

Posologia e modo de uso popular: Tanto o consumo in natura da polpa do abacaxi maduro, como o preparo de suco ou chá são benéficos para a saúde. É importante optar por uma fruta em que não tenha sido aplicado agrotóxicos para o consumo da casca, principalmente.

Xarope: em banho-maria ou no forno desidratar a fruta e adicionar açúcar mascavo e/ou 1 colher de sopa de mel e 10 gotas de própolis. Fazer o consumo de 2 ou 3 colheres por dia do preparado (LORENZ et al., 2002). Evitar essa forma de uso em pessoas com sobrepeso ou diabéticas. 

Emplastro: O fruto picado acrescido de farinha de trigo ou arroz, na proporção de 2 colheres de sopa para 1 colher respectivamente, é aplicado diretamente sobre contusões e psoríase deixando-a durante 15 minutos (LORENZ et al., 2002).

Observações: O abacaxi, Ananas comosus (L.) Merril, símbolo de regiões tropicais e subtropicais, tem grande aceitação em todo o mundo, tanto na forma natural, quanto industrializado, agradando aos olhos, ao paladar e ao olfato. A fruta também está fortemente associada à história dos aborígenes americanos, tanto como fonte de alimento quanto como elemento simbólico de rituais (BENNETT, 2000 apud MENETTI et al., 2009).

No Brasil, que ocupa a terceira colocação no ranking da produção mundial de frutas, o abacaxi contribuiu com 8,4% do volume total da fruticultura brasileira, sendo uma das principais frutas produzidas no país. (DERAL, 2020).

A planta multiplica-se pelos brotos do ápice dos frutos e pelas brotações da base.

Referências:

BAEZ at el.,  In vivo antitumoral activity of stem pineapple (Ananas comosus) bromelain. Planta Med. 2007, 73, 1377–1383.

BENNETTI, B.C. Em Ethnobotany of Bromeliaceae in Bromeliaceae: Profile of an adaptative radiation; Benzing, D. H., ed.; Cambridge University: Cambridge, 2000, cap 14.

CHAKRABORTY, A. J. et al. Bromelain a Potential Bioactive Compound: A Comprehensive Overview from a Pharmacological Perspective Life 2021, Vol. 11, Page 317, 11, 4, 4 2021

CRESTANI, Maraisa et al. Das Américas para o Mundo – origem, domesticação e dispersão do abacaxizeiro – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA FITOTECNIA  Cienc. Rural vol.40 no.6 Santa Maria June 2010 acesso http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782010000600040 

DERAL – Departamento de Economia Rural –  Prognóstico 2020 Fruticultura – Análise da Conjuntura do Governo do Estado do Paraná. <https://www.agricultura.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-01/fruticultura_2020.pdf> Acesso em: 02 maio 2022

HALE. LP et al, Proteinase activity and stability of natural bromelain preparations. Int Immunopharmacol. 2005;5(4):783-793.15710346

Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/geral/ExibeFiguraFSIUC/ExibeFiguraFSIUC.do?idFigura=228362325>. Acesso em: 02 maio 2022

LORENZI, H. et al. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2.ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002.

MAURER, HR. Bromelain: biochemistry, pharmacology and medical use. Cell Mol Life Sci. 2001;58(9):1234-1245.11577981

MA, C et al. Chromatogr., A 2007, 1165, 39

MENETTI, L. M. et al. Metabólitos secundários da família bromeliaceae Revisão Quím. Nova 32 (7), 2009. https://doi.org/10.1590/S0100-40422009000700035

NYBG – Jardim Botânico de Nova Iorque <sweetgum.nybg.org/science/vh/specimen-details/?irn=952746> Coletor H. S. Irwin Acesso em: 03 maio 2022

OIPM – Observatório de Interações Planta-Medicamento <www.oipm.uc.pt/interacoes/index.php?target=list&search=plantas&start_at=10> Acesso em: 03 maio 2022

PARADA et al. Nat. Prod. Lett. 1995, 7, 69.

STEPEK, G., et al.  In vitro and in vivo anthelmintic efficacy of plant cysteine proteinases against the rodent gastrointestinal nematode, Trichuris muris. Parasitology 2006, 132, 681–689.

SUTHERLAND, G. K.; Gortner, W. A.; Australian J. Chem. 1959, 12, 240.

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VARILLA, C et al, 2021, Bromelain, a Group of Pineapple Proteolytic Complex Enzymes ( Ananas comosus) and Their Possible Therapeutic and Clinical Effects. A Summary

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