Sobre o Horto

O Horto Didático de Plantas Medicinais Hospital Universitário (HU)/ Centro Ciências da Saúde (CCS)/ Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iniciou no ano de 1985, no espaço físico do Parque Ecológico do Córrego Grande em Florianópolis numa iniciativa do médico Cesar Paulo Simionato. Na época, Cesar atuava junto a Unidade Básica de Saúde da Costa da Lagoa e observava que a comunidade fazia uso de chás e outras formas de uso das plantas para tratamento de suas enfermidades. Se formou como médico generalista no Rio Grande do Sul e em 1984, ao chegar em Florianópolis, foi trabalhar pela prefeitura na Costa da Lagoa. 

O resgate da memória em utilizar plantas nativas para o cuidado e tratamento do corpo, prática feita pela população da Costa da Lagoa e também pela sua própria família, fez Cesar começar a estudar essas plantas utilizadas terapeuticamente por essa comunidade, das quais ele não tinha domínio. A observação do uso e costumes daquela população, bem como ter uma escuta ativa sobre os usos das propriedades medicinais de algumas espécies, auxiliando-os a fazer os diagnósticos e avaliar se era imprescindível o uso de medicamento alopático ou se poderia primeiro tratar com as plantas medicinais.  

A troca de experiências e conhecimentos com a comunidade não se dava apenas no consultório da UBS da Costa da Lagoa. César passou a visitar as residências da comunidade para ver as plantas e o uso que as pessoas faziam das mesmas, assim como os resultados obtidos nos tratamentos com as plantas medicinais. O tempo de vinte e três anos nessa UBS o impulsionou a mudar os rumos do seu exercício profissional. Nesse processo, César deu início ao Horto Didático de Plantas Medicinais no ano de 1985. Inicialmente localizava-se no Horto Ecológico do Córrego Grande, hoje chamado Parque Ecológico do Córrego Grande. 

Cesar Paulo Simionato, idealizador do Horto Didático de Plantas Medicinais.

Nesse mesmo ano, começou a trabalhar na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) como médico e isso foi importante para essa iniciativa e poder desenvolver seu trabalho como supervisor dos(as) alunos(as) da Medicina nas Unidades de Saúde. Também houveram parcerias com os professores(as) do curso de Farmácia, como com a Profª Mareni Rocha Faria, professora da Farmácia Escola da UFSC, já conhecida por César, que ambos em 1994 apresentaram um relato de caso sobre “Plantas Medicinais usadas na Ilha de Santa Catarina” em um Simpósio no Ceará. Conheceu o projeto “Farmácia Viva” no mesmo congresso, um projeto referência para outros semelhantes no país, o que lhe incentivou a dar continuidade ao Projeto do Horto Didático de Plantas Medicinais em Florianópolis. 

Um ano depois, em 1995, um seminário de fitoterapia com profissionais da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) com apoio do Departamento de Farmácia da UFSC foi realizado, o qual discutia conhecimentos populares e o uso de plantas medicinais na rede básica de saúde. 

Durante os anos houve muita luta para continuar com espaço do Horto do Córrego Grande devido a interesses de empresas privadas, e no ano de 1998 foi visto um espaço físico ao lado do HU pertencente à UFSC. Então, foi solicitado o uso desse espaço para a utilização nas atividades do Horto e, quando cedido, iniciou-se as atividades com as plantas medicinais em parceria com o CCS e o HU. 

Neste período também iniciou como colaboradora do horto, a farmacêutica Shirley Rosa, que por vários anos participou da organização das atividades e do cultivo das espécies medicinais no local. Além de colaborar com as atividades pedagógicas e visitas guiadas que ocorriam no local, trabalhou orientando os alunos das disciplinas de graduação e principalmente na elaboração da página eletrônica, onde depositava as informações sobre o uso popular e estudos científicos realizadas pelos alunos durante as pesquisas bibliográficas para o trabalho final da disciplina de plantas medicinais.

Atualmente o horto está vinculado ao Departamento de Farmácia  do Centro  de Ciências da Saúde da UFSC. As atividades de extensão e pesquisas, no  momento, estão sob coordenação da Profª Maique Weber Biavatti, que  também é pesquisadora vinculada ao Laboratório de Farmacognosia da  UFSC, participa ainda da equipe de trabalho do horto a assistente social da UFSC, Ana Paula B. dos Santos. 

O Horto Didático de Plantas Medicinais HU/CCS (UFSC), conta com diversas aulas e atividades práticas de disciplinas dos cursos da UFSC e para outras Instituições externas, como por exemplo, para profissionais da área da saúde da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF). Ocorre também a interação com a comunidade através da troca de experiências, cursos, informações e plantio de mudas. Este local permite aos(às) alunos(as) o contato com plantas medicinais utilizadas pela população ou mesmo plantas exóticas que tem ação medicinal.  

“O Horto suporta diversos espécimes de plantas in natura, tanto as mais populares de uso tradicional da maioria da população até as mais tóxicas com potenciais medicinais mas que devem ser evitadas ou usadas em dosagens mínimas prescritas por algum profissional. O espaço serve como uma sala de aula viva em espaço aberto, onde as aulas são embasadas nos conhecimentos científicos das potencialidades terapêuticas das plantas como também se apoia na apropriação dos usos tradicionais de cada erva advinda da sabedoria popular.”
(SILVA. 2018- Plantas medicinais e fitoterápicos na UFSC: Perspectivas educacionais e pedagógicas.)

Produtos oriundos da natureza, principalmente de plantas, vêm sendo usados para o tratamento de diversas doenças ao longo dos anos e vêm recuperando seu espaço e importância na atenção básica de saúde e na indústria farmacêutica, como fonte inspiradora de novos padrões moleculares bioativos uma vez que fornecem moléculas com eficácia muitas vezes superiores aos fármacos disponíveis no mercado ou fornecem subsídios para sua utilização como protótipos no desenvolvimento de novos fármacos (ATANASOV et al. 2015). A investigação científica evoluiu com considerável eficiência através do entendimento de mecanismo de ação e isolamento dos princípios ativos a partir de plantas superiores com amplo uso medicinal (CRAGG, GROTHAUS, NEWMAN, 2014). Pesquisa realizada entre os anos de 1981 a 2014 demonstram que 67,5% dos fármacos de uso clínico são de origem natural, e revelam a importância de produtos naturais na área de câncer quando comparados às substâncias obtidas sinteticamente, com um percentual de descoberta de 60%, em relação aos anticancerígenos de uso clínico (NEWMAN; CRAGG, 2016; DUTRA et al., 2016; KHAN, 2018).

Estes fatos poderiam fazer pensar ser lógico o ensino de plantas medicinais e seu uso seguro para os (as) graduandos da área da saúde, mas analisando o currículo do sistema de formação de recursos humanos para a área de saúde e das ligadas ao tema, não é comum este saber/conhecimento na grade curricular. Desta forma, remetem a necessidade de informar/formar aos(às) profissionais de saúde e aos graduandos de nossas universidades o uso correto e adequado das plantas medicinais. Portanto, denota-se a importância do Horto Didático de Plantas Medicinais HU/CCS (UFSC) na formação de recursos humanos capacitados para o dialogar com a sociedade sobre o tema plantas medicinais.

Mutirão com a comunidade.

Mutirão com a comunidade