Dia Nacional do Cerrado
Ocorrendo como um grande bloco contínuo no Brasil central, o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, abrange os estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Pará, Rondônia e Distrito Federal, além de aparecer em partes em Roraima e no Amapá.
É considerado a região de savana tropical mais biodiversidade no mundo, porém, pela constante pressão para a abertura de novas áreas a serem incrementadas para a produção de carne e grãos para exportação, o Cerrado tem historicamente sofrido uma taxa de desmatamento superior à da floresta Amazônica. O Cerrado é considerado um dos hotspot de biodiversidade do mundo. Estima-se que em função da expansão da fronteira agrícola brasileira, o Cerrado tenha perdido 46% de sua vegetação nativa, e só cerca de 20% permaneça completamente intocado (Strassburg et al, 2017).
Foi a partir de 1940 que o Cerrado passou a ser estudado sob o ponto de vista agrícola (Embrapa Cerrados, 2002), intensificando-se desde então os movimento de ocupação para o sistema produtivo agrícola nacional. Na década de 70, com a efetivação da capital Brasília-DF pelos esforços de interiorizar o desenvolvimento no país e alavancar o Centro-Oeste, o governo passou a adotar políticas de modernização também na agricultura, o que possibilitou a nova configuração de ocupação do Cerrado com o fortalecimento da pesquisa agropecuária, materializado na criação da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em 1973, alimentando a estratégia de geração e adoção de conhecimentos e tecnologias e pela implementação de programas de incentivo, em que destacaram-se dois para o desenvolvimento da nova fronteira agrícola brasileira: Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – POLOCENTRO e Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PROCEDER (esse último financiado em grande medida pelo Japão), que possibilitaram desde a compra de terras, até a assistência técnica aos agricultores de médios e grandes empreendimentos agropecuários (Agência Senado, 2020).
Assim, principalmente produtores gaúchos e do oeste paranaense com experiência no plantio de grãos, migraram para o Centro-Oeste atraídos pelo baixo preço das terras, facilidade de remoção da vegetação nativa, investimentos em infraestrutura e pesquisa e dispondo de juros subsidiados e de longos prazos: incentivos do governo para o desenvolvimento de uma economia agropecuária tecnicizada pela progressiva substituição da agricultura itinerante por grandes extensões de monoculturas. Inicialmente pela incorporação de extensas áreas para o cultivo de soja, seguida de outras culturas como milho, algodão e cana-de-açúcar. Além destes, o crescimento da área cultivada com pastagem, notadamente do gênero Brachiaria spp, acelerou a partir dos anos 70, estimulada por políticas públicas e de crédito nacionais e internacionais voltadas para exploração de grãos e de carnes.
Dessa forma, tal ênfase na agricultura em larga escala, além de resultar na progressiva inviabilização da pequena agricultura familiar, aumentou potencialmente os danos ambientais da Região, pois a mecanização agrícola, além de atuar na substituição da vegetação nativa, foi acompanhada pela alta degradação ambiental decorrente da utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes, contaminando solo, ar e cursos d’água, que somados ao desmatamento, aceleram a erosão do solo e promovem o assoreamento dos rios, deixando à margem também as populações nativas: indígenas, babaçueiras, quilombolas, ribeirinhos e comunidades quilombolas tradicionais que sobrevivem de seus recursos naturais do Bioma, preservando o conhecimento tradicional e a sua biodiversidade.
O resultado de tais políticas referente a alteração no Bioma é vertiginoso, de cerca de 6% da soja do país no início da década de 1970, a Região do Cerrado produziu na safra 2013/2014 mais da metade (52%) da soja cultivada no Brasil, sendo esse cultivo responsável por 90% (15,6 milhões de hectares) da agricultura no Bioma (Filho, 2016).
Contudo, apesar da alta demanda da terra para a produção de soja e outros cultivares no Cerrado, é a produção animal a principal atividades econômica exercida no território. Tal produção teve igualmente grande aumento nas últimas décadas, saltando de 7% em 1970 para 19,5% em 2009, detendo cerca de um terço do rebanho bovino nacional (Ipeadata, 2013). O Cerrado é responsável por 55% de carne produzida no Brasil (EMBRAPA, 2008), e neste bioma encontram-se ainda, o maior número de frigoríficos com inspeção federal e o maior número de indústrias frigoríficas aptas à exportação de carnes (Macedo 1997).
Para além, contribuindo para a degradação ambiental do Cerrado, somam-se ainda a caça predatória, o extrativismo pela exploração de produtos madeireiros, ornamentais, alimentares e medicinais, e produção de carvão vegetal para a indústria siderúrgica, esta última que em 2005, dos 9,5 milhões de toneladas de carvão produzidos no Brasil, 50% veio da queima da vegetação nativa, em maior parte do Cerrado (Peixoto et al, 2016).
Assim, em gritante contraste ao aumento da importância econômica do Bioma, principalmente aos olhos do agronegócio pelo modelo agro-exportador dependente brasileiro, o Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do Brasil. Urge à sociedade a luta por políticas públicas que atuem pela preservação e conservação do Cerrado, pelo fomento em atividades econômicas sustentáveis e não destrutivas ao Bioma que abriga cerca de 5% de toda a biodiversidade mundial.
Bibliografia:
Embrapa Cerrados. 2002. II Plano Diretor Embrapa Cerrados 2000-2003. Planaltina: Embrapa Cerrados.
A expansão da soja no Cerrado Caminhos para a ocupação territorial, uso do solo e produção sustentável, Filho, A. C. e Costa, K. 2016 – EUCLIDES FILHO, K. A pecuária de corte no cerrado brasileiro. Brasília: EMBRAPA Cerrados, 2008.
SANO, E. E.; ROSA, R.; BRITO, J. L. S.; FERREIRA, L. G. Mapeamento semidetalhado do uso da terra do Bioma Cerrado. Pesquisa agropecuaria brasileira. Brasília, v.43, n.1, jan. 2008, p.153-156.
RIBEIRO, J. F.; SANO, S. M.; MACEDO; SILAVA, J. A. Os principais tipos fitofisionômicos da região dos Cerrados. Embrapa-CPAC, Planaltina, DF. 1983
RIBEIRO, J. F.; BRIDGEWATER, S.; RATTER, J. A. & SOUSA-SILVA, J. C. Ocupação do bioma Cerrado e conservação da sua diversidade vegetal. In: SCARIOT, A.; SOUSA-SILVA, J. C. & FELFILI, J. M. (org.). Cerrado: ecologia, biodiversidade e conservação. MMA. Brasília, DF. 2005
PEIXOTO, Ariane Luna; BRITO, J. R. P. L. E. M. A. D. Conhecendo a Biodiversidade: Cerrado – Um bioma rico e ameaçado . 1. ed. Brasília: Editora Vozes, 2016.
MACEDO, M.C.M. Pastagem no ecossistema Cerrados: pesquisas para o desenvolvimento sustentável. In: SIMPÓSIO SOBRE PASTAGENS NOS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS, I, 1995, Brasília. Anais… Brasília: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1997.
Brasília foi marco para expansão da fronteira agrícola Fonte: Agência Senado
ESTRASBURGO, B. et al (2017). Momento da verdade para o hotspot do Cerrado. Natureza Ecologia e Evolução